quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Texto de Clarice Lispector
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e
oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem
ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão
contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa
reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se
com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz
como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que
tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito
perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa
que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo
que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que
se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em
drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da
alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as
luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor
da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de
prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os
outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina
para dar.
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